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1990 - 1992
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As primeiras séries após quatro anos de estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde desenvolveu esculturas e instalações, marcam um retorno à pintura. Os trabalhos são construídos a partir de muitas camadas, com a gestualidade marcada pelo ato de jogar das tintas, que escorrem pela tela, criando caminhos. Mas também pela materialidade de elementos como a areia, que tanto amplia a textura e a visualidade das telas quanto dialoga com o período em que a artista trabalhou com materiais de construção criando objetos, formas e ambientes. Esta série de trabalhos foi apresentada na primeira individual da artista na Galeria Contemporânea, Rio de Janeiro.
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1994
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As pinturas desta fase apresentam paisagens imaginadas. Os tons são mais terrosos com a entrada do cinza entre os verdes e os azuis, e as transparências destacam as camadas e os escorridos. A cola tem um papel-chave na produção das visualidades e os fundos passam a receber menos areia. A série foi exibida em uma exposição individual no Centro Cultural Cândido Mendes, em Ipanema, Rio de Janeiro.
Neste ano, sua obra é tema de um ensaio do renomado crítico de arte e curador Frederico Morais. “De início, sobre um fundo de pequenas manchas-pinceladas de cores esmaecidas - terras ou ocres delicados - Renata insere um grafismo que tanto pode sugerir, numa primeira abordagem, resíduos de uma vegetação rasteira como a que encontramos no cerrado, como também rabiscos, graffitis e garatujas, um quase-texto de decifração desnecessária. Trata-se, é claro, de uma paisagem inventada, ou melhor, construída no ateliê, mais pensada que vivida. Ou então cria sugestões de arquiteturas que se perdem no longe da paisagem (ou melhor, da tela), a lembrar as últimas pinturas de Guignard, orientalizantes em suas brumas, névoas, noruegas”, escreveu.
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1998
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Este período é marcado por grandes campos de cores verticais que se encontram em fronteiras pouco delineadas. Além das tintas e pincéis, as obras ganham a materialidade da cola aplicada com o tubo e espalhada levemente com a mão, para que o grafismo ficasse menos definido criando transparências. Os grafismos que começam a aparecer são transformados neste processo.
"Renata Cazzani vem debatendo e aprofundando basicamente três questões: grafismo, cor e espaço, ora buscando harmonias, ora extravasando tensões e conflitos. A artista divide a tela em duas, três ou mais áreas de cor, apesar da inexistência de uma linha divisória precisa. Embate entre geometria e cor, entre construção e desconstrução, entre a necessidade de ordem e um esboço da desordem, entre o rigor e improvisação - ou quase.", escreveu o crítico Frederico Morais.
Este conjunto de obras foi exibido em uma individual na Galeria de Arte Ipanema, no Rio de Janeiro, e a obra de tons amarelos e terrosos foi adquirida para o acervo da Shell Brasil.
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1999
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A série deste ano tem como característica cores mais intensas, o uso de tom sobre tom, e a utilização de campos cromáticos mais horizontalizados. As telas exibem diferentes escalas de azul, verde e marrom. As divisões do espaço tem marcações mais definidas junto com elementos recorrentes da poética da artista, como os grafismos feitos com a cola e a tinta que escorre. Os trabalhos foram exibidos em na individual na Cast Iron Gallery, em Nova York.
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2000 - 2001
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O novo milênio traz uma série de trabalhos mais claros, com tintas mais diluídas, com novas cores ampliando (e esquentando) a paleta. Para além das zonas cromáticas atualizadas, as divisões nas telas se ampliaram, construindo novos campos, encruzilhadas e diálogos estruturados. Algumas obras ganharam detalhes e faixas nas laterais. Porém, as fronteiras seguem pouco definidas, com interseções e separações.
"Na pintura de Renata Cazzani é no Plano, que a pintura da artista se realiza com seu encantamento próprio.é um labor com vistas à sublimação do Plano, suprimindo cores mais gritantes, evitando dissonâncias alteradas demais. Para chegar, não às tensões matéricas anteriores, mas para atingir os efeitos do Sublime", escreve Wilson Coutinho em texto crítico da individual de 2000, na Galeria de Arte Ipanema. Neste ano, a artista também realizou também a individual “Wintersession”, na Cast Iron Gallery, em Nova York, Estados Unidos.
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2001
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Já em 2001, as cores entraram com muita força nos dípticos e trípticos. Azuis escuros contrapondo com vários tons de vermelhos, vinhos e o lilases. Estes trabalhos foram expostos em mostras individuais no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, na Mônica Filgueiras Galeria de Arte, em São Paulo.
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2002 - 2003
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As novas séries explodem em cores e intensidades. Na grande parte dos trabalhos a paleta é quente e aberta, e se apresenta de forma mais homogênea. São campos de vermelhos, laranjas, verdes, azuis, entrecortados por linhas soltas e irregulares de cores horizontais ou verticais, feitas com o uso de fita crepe. A opacidade dos grandes campos se contrapõem às transparências e escorridos anteriores e destacam a escolha pela tela muito limpa, sem marcas de ação.
"O que importa é a cor e a luz como acontecimento: a vibração da barra colorida ressoando contra um ou mais planos de cor, a irradiação luminosa e irrestrita da cor que igualmente ocupa os campos da tela ou a pulsação cromática de tons diferenciados que preenchem as áreas divididas pela barra, afetando-se mutuamente", escreve o crítico de arte João Masao Kamita. No período, a artista fez mostras individuais na Anita Schwartz Galeria, no Rio de Janeiro, e no Toyota Municipal Museum of Art, em Toyota, no Japão.
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2007
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A série de obras é marcada por uma descontinuidade em relação à anterior. A tabela quente deu lugar a tons de outono, como o dourado, envelhecido, o vinho escuro e o grafite. O fundo das pinturas foi feito com trincha, marcando propositalmente a presença do pincel com bastante movimento. As escolhas poéticas ainda englobam o uso de tintas misturadas para faixas encobertas por diferentes campos cromáticos fechados. Neste período as telas se tornaram quadradas, de grande formato e verticais com a presença de largas faixas tanto no campo inferior como no superior da tela ou ao redor.
"A questão é histórica, mas o dilema premente: a possibilidade da arte no real contemporâneo. Fazer uma pintura viva é impregná-la de vivência de vivência atual, assumindo na tela o incerto, o disperso e até o entrópico de nossa existência, sem contudo, conformar-se com a descrença e o sem sentido dominante. Eis a razão, ao meu ver, do tônus existencial que essas telas exalam, na medida em que expõem a verdade temerária, mas incontornável de todo pintor: o drama da reinvenção da pintura a cada tela", escreve João Masao Kamita, no catálogo das exposições "Autumn Haze", que ocupou o Brazilian-American Institute em Washington DC, Estados Unidos e no Centro Cultural Cândido Mendes, em Ipanema, Rio de Janeiro
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2023
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Em sua nova série de obras, Renata Cazzani usa o quadrado, o retângulo horizontal e o vertical com diferentes áreas de cores que formam novas geometrias. As faixas que cortam os blocos cromáticos, agora não sólidos, ganham novos destaques: um detalhe em roxo no topo que dialoga com uma fina faixa vermelha na base. Ou formas dentro de formas separadas por cores, de maneira que o olhar circule sobre as telas de não linearmente, em busca dos detalhes. Segundo a historiadora e curadora de arte Vanda Klabin, “Sua gestualidade está diluída nas pinceladas, mas deixa a marca de sua presença, atenuada nos procedimentos que adota para finalizar o seu processo de trabalho e, por vezes, apresenta traços reconhecíveis pela aplicação da cor em grandes áreas, onde a artista não demonstra receio pelas cores fortes. Podemos observar como a substância cromática ganha espessura no trabalho no seu processo criativo: experimentar é manter viva a capacidade de ser atual e surpreendente, graças a uma espacialidade aberta e uma liberdade, oriundas das suas intensidades cromáticas”. : O conjunto de obras será exibido pela primeira vez de 21 de novembro a 22 de dezembro de 2023, na individual “Pulsações Cromáticas”, na Galeria Patrícia Costa.